sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Crise Socioambiental Contemporânea

A reflexão sobre a crise socioambiental contemporânea deve ir além de simplesmente elencarmos causas e conseqüências de determinadas situações de degradação ambiental ou de injustiça social. Nossa reflexão deve permear os diferentes níveis da crise; como eu, o grupo social no qual estou inserido, a empresa onde trabalho, a população da minha cidade, do Brasil, do mundo, através de nossas relações, culturalmente estabelecidas, reproduzimos e/ou transformamos este cenário de crise.

Milton Santos - no livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. - retrata que vivemos um período que é uma crise. O autor sustenta que a história do capitalismo sempre foi marcada por períodos de tempo com certa coerência entre suas variáveis significativas. E que estes períodos são antecedidos e precedidos por crises. Entretanto, este período globalizado, analisado como período apresenta variáveis que instalam-se em toda parte e a tudo influenciam, direta ou indiretamente. E visto como crise, as mesmas variáveis construtoras do sistema estão continuamente se chocando exigindo novos arranjos. Para o autor o processo de crise é permanente, através de crises sucessivas que evidenciam uma crise global estrutural. “Por isso, quando se buscam soluções não estruturais, o resultado é a geração de mais crise”.


Frijot Capra - no livroA teia da Vida: Uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. - nos da a conotação que “em última analise, esses problemas precisam ser vistos, exatamente como diferentes facetas de uma única crise, que é, em grande medida, uma crise de percepção.”

Carlos Walter P. Gonçalves - no livro Os (des)caminhos do meio ambiente. - é possível dizer que a separação homem-natureza é uma característica marcante do pensamento dominante do mundo ocidental, com sua matriz filosófica alicerçada na Grécia e Roma clássicas. Evidenciada através de uma postura dicotomizada, parcelada, oposta, entre homem e natureza.

Boff (2004) relata que o objetivo básico foi bem formulado pelos fundadores do paradigma moderno (Galileu Galilei, René Descartes, Francis Bacon, Isaac Newton, entre outros) criando o mito do ser humano, herói desbravador, Prometeu indomável e suas obras faraônicas. Segundo o autor a crise ecológica remete à crise do paradigma civilizacional. Uma visão reducionista de estar sobre as coisas e sobre tudo parece residir o mecanismo fundamental da crise civilizacional. A vontade de tudo dominar hoje nos faz assujeitados aos imperativos de uma Terra degradada.

Segundo Frijot Capra , esse paradigma consiste em idéias e valores entrincheirados, como as visões do universo como um sistema mecânico, o corpo humano como maquina, a vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso imaterial ilimitado por intermédio de crescimento econômico e tecnológico e a crença em que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior a do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza “

Nos ensaios Ecopsychology, um grupo de psicólogos nos fornece uma nova dimensão poderosa para o movimento ambientalista, sugerindo que ao viver em maior harmonia com o mundo natural, não só ajudamos a salvar nosso planeta da destruição final, mas devemos também melhorar a nossa saúde mental e sermos mais felizes e realizados como seres humanos " (Jane Goodall). A ecopsicologia supõe que no mais nível mais profundo a psique permanece solidária à terra, mãe existencial, e através de nossas transações com o ambiente, podemos observar projeções de necessidades e desejos inconscientes.

Terrance O’Connor, no artigo terapia para um planeta que está morrendo. relata que a ação é necessária, porém a ação com sentimento de culpa pode somente piorar o problema. Estamos em desarmonia com o mundo porque estamos em desarmonia com nós mesmos. O sentimento de culpa é uma indicação disto. Sentir-se culpado é um aviso de que nosso sistema de valores é incongruente, há uma divisão no nosso sentido do eu que precisa ser investigada. Se agimos sem introspecção, nós simplesmente lançamos nosso peso para um dos lados do conflito interior, aumentando a desarmonia. Nossas ações serão incompletas e fragmentadas. Faremos algum movimento simbólico e voltaremos a negar e a minimizar. Curar-se é fazer-se inteiro.
Os ecopsicólogos acreditam que há um vínculo emocional entre os seres humanos e o ambiente natural no qual nos desenvolvemos. A ecopsicologia focaliza o problema da comunicação eficiente com o público em geral que deve ver ao encontro das exigências da revolução ambiental. Contudo, as questões que ela suscita dizem respeito a muito mais do que um simples problema de relações públicas e terapia pessoal. Há uma questão filosófica subjacente. Ela tem a ver com nossa compreensão da natureza humana – ou, se desejar, da natureza da alma. A psicologia é, acima de tudo, o estudo da alma em toda a sua complexidade e contradição. É o estudo do que as pessoas amam e odeiam e temem e necessitam. Em algum ponto, tanto os psicólogos quanto os ambientalistas precisam decidir qual a conexão humana com o planeta que nossa espécie tem posto em perigo.
Em seu aspecto mais ambicioso, a ecopsicologia busca redefinir a sanidade dentro de um contexto ambiental. Ela sustenta que procurar curar a alma sem que se faça referência ao sistema ecológico do qual somos uma parte integral é uma forma de cegueira auto-destrutiva. Os ecopsicólogos estão estudando as ciências ecológicas a fim de reexaminar a psique humana como uma parte integral da teia da natureza. Ter o apoio de uma profissão tão influente seria um ganho bem-vindo para o movimento ambientalista.



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