Milton Santos - no livro Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. - retrata que vivemos um período que é uma crise. O autor sustenta que a história do capitalismo sempre foi marcada por períodos de tempo com certa coerência entre suas variáveis significativas. E que estes períodos são antecedidos e precedidos por crises. Entretanto, este período globalizado, analisado como período apresenta variáveis que instalam-se em toda parte e a tudo influenciam, direta ou indiretamente. E visto como crise, as mesmas variáveis construtoras do sistema estão continuamente se chocando exigindo novos arranjos. Para o autor o processo de crise é permanente, através de crises sucessivas que evidenciam uma crise global estrutural. “Por isso, quando se buscam soluções não estruturais, o resultado é a geração de mais crise”.
Carlos Walter P. Gonçalves - no livro Os (des)caminhos do meio ambiente. - é possível dizer que a separação homem-natureza é uma característica marcante do pensamento dominante do mundo ocidental, com sua matriz filosófica alicerçada na Grécia e Roma clássicas. Evidenciada através de uma postura dicotomizada, parcelada, oposta, entre homem e natureza.
Boff (2004) relata que o objetivo básico foi bem formulado pelos fundadores do paradigma moderno (Galileu Galilei, René Descartes, Francis Bacon, Isaac Newton, entre outros) criando o mito do ser humano, herói desbravador, Prometeu indomável e suas obras faraônicas. Segundo o autor a crise ecológica remete à crise do paradigma civilizacional. Uma visão reducionista de estar sobre as coisas e sobre tudo parece residir o mecanismo fundamental da crise civilizacional. A vontade de tudo dominar hoje nos faz assujeitados aos imperativos de uma Terra degradada.
Segundo Frijot Capra , esse paradigma consiste em idéias e valores entrincheirados, como as visões do universo como um sistema mecânico, o corpo humano como maquina, a vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso imaterial ilimitado por intermédio de crescimento econômico e tecnológico e a crença em que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior a do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza “
Nos ensaios Ecopsychology, um grupo de psicólogos nos fornece uma nova dimensão poderosa para o movimento ambientalista, sugerindo que ao viver em maior harmonia com o mundo natural, não só ajudamos a salvar nosso planeta da destruição final, mas devemos também melhorar a nossa saúde mental e sermos mais felizes e realizados como seres humanos " (Jane Goodall). A ecopsicologia supõe que no mais nível mais profundo a psique permanece solidária à terra, mãe existencial, e através de nossas transações com o ambiente, podemos observar projeções de necessidades e desejos inconscientes.
Terrance O’Connor, no artigo terapia para um planeta que está morrendo. relata que a ação é necessária, porém a ação com sentimento de culpa pode somente piorar o problema. Estamos em desarmonia com o mundo porque estamos em desarmonia com nós mesmos. O sentimento de culpa é uma indicação disto. Sentir-se culpado é um aviso de que nosso sistema de valores é incongruente, há uma divisão no nosso sentido do eu que precisa ser investigada. Se agimos sem introspecção, nós simplesmente lançamos nosso peso para um dos lados do conflito interior, aumentando a desarmonia. Nossas ações serão incompletas e fragmentadas. Faremos algum movimento simbólico e voltaremos a negar e a minimizar. Curar-se é fazer-se inteiro.
Os ecopsicólogos acreditam que há um vínculo emocional entre os seres humanos e o ambiente natural no qual nos desenvolvemos. A ecopsicologia focaliza o problema da comunicação eficiente com o público em geral que deve ver ao encontro das exigências da revolução ambiental. Contudo, as questões que ela suscita dizem respeito a muito mais do que um simples problema de relações públicas e terapia pessoal. Há uma questão filosófica subjacente. Ela tem a ver com nossa compreensão da natureza humana – ou, se desejar, da natureza da alma. A psicologia é, acima de tudo, o estudo da alma em toda a sua complexidade e contradição. É o estudo do que as pessoas amam e odeiam e temem e necessitam. Em algum ponto, tanto os psicólogos quanto os ambientalistas precisam decidir qual a conexão humana com o planeta que nossa espécie tem posto em perigo.
Em seu aspecto mais ambicioso, a ecopsicologia busca redefinir a sanidade dentro de um contexto ambiental. Ela sustenta que procurar curar a alma sem que se faça referência ao sistema ecológico do qual somos uma parte integral é uma forma de cegueira auto-destrutiva. Os ecopsicólogos estão estudando as ciências ecológicas a fim de reexaminar a psique humana como uma parte integral da teia da natureza. Ter o apoio de uma profissão tão influente seria um ganho bem-vindo para o movimento ambientalista.
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