quinta-feira, 31 de maio de 2012

PGS Escola no II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica

O Klimata, através do seu Programa de Participação Cidadã - Sala Verde UFSC participou do II Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica apresentando o Programa de Gestão Socioambiental na Escola. A ação objetiva disseminar o Programa e a metodologia proposta, cumprindo a seu objetivo de disseminar práticas e metodologias que promovam o fortalecimento do papel da escola como protagonistas na construção de uma sociedade social e ambientalmente mais equilibrada.




  

Um pouco da nossa Visão de Mundo

O físico americano Thomas Kuhn, autor do livro A Estrutura das Revoluções Científicas descreve a evolução do desenvolvimento científico e introduz o conceito de paradigma, contribuindo significativamente para a construção da filosofia da ciência como a conhecemos atualmente. 
Para Kuhn, a evolução da ciência pode ser entendida como uma sucessão de períodos de "ciência normal" interrompidos esporadicamente por "revoluções científicas" que levam, lenta e gradativamente a "mudanças de paradigmas" que, para o autor pode ser entendido como aquilo que os membros de uma comunidade cientifica partilham e, inversamente, a comunidade consistiria em homens que partilham um paradigma (Thomas Kuhn, 1970, p.219).

Kuhn afirma que assumir um paradigma é essencial para as escolas científicas, estabelecendo regras e assegurando a definição de problema e suas soluções. A ciência normal só existe a partir dos paradigmas, que estabelecem o arcabouço teórico-filosófico que estrutura o trabalho dos cientistas e pesquisadores. Todavia, a partir do momento que estas soluções começam a ser questionadas, quando o paradigma dominante não mais oferece soluções aceitáveis aos problemas  estudados, instala-se um momento de crise, debates e questionamentos sobre  inseguranças e novas certezas.

Kuhn denomina estes períodos como pré-paradigmáticos, no qual debates freqüentes buscam métodos, problemas e padrões de solução legítimos e duram até o momento do surgimento de um consenso sobre novas possibilidades de respostas para o novo problema encontrado. Esse processo que inicia a partir de questionamentos sobre os postulados que estabelecem os rumos da ciência normal e termina quando as antigas certezas são totalmente, ou predominante substituídas por novas, Kuhn denomina de revoluções científicas. 


revoluções científicas estabelecem novos padrões sociais, filosóficos, econômicos, padrões de relação com a natureza e entre os seres humanos, a forma como pensamos e enxergamos o mundo. Exemplos dessa afirmação podem ser identificados em diferentes momentos históricos, a exemplo das transformações geradas pela descoberta de Nicolau Copérnico, que publica na obra "Sobre as Revoluções dos Orbes Celestes" que a Terra gira em torno do Sol; ou as teorias publicadas por Isaac Newton na obra "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural” na qual Newton descreve a lei da gravidade; as teoria da relatividade de Einstein, ou as conclusões publicadas na obra "Sobre a Origem das Espécies" de Charles Darwin, na qual o autor descreve como a seleção natural e as mutações ao acaso determinam a evolução das espécies.

Todas estas revoluções enfrentaram sérios obstáculos para sua aceitação e resultaram em profundas transformações científicas, filosóficas e sociais. Todavia, embora existam vários exemplos destas revoluções, historicamente elas ocorrem excepcionalmente.

Estes conceitos são importantes, pois o PGA Escola parte do princípio que a sociedade contemporânea passa pelo auge de um momento pré-paradigmático, no qual uma crise socioambiental sem precedentes impõe novos problemas que exigem novas soluções. O atual paradigma apresenta contradições estruturantes que exigem novas respostas e a criação de alternativas.




Para Santos (2000) vivemos um período que é uma crise. O autor sustenta que a história do capitalismo sempre foi marcada por períodos de tempo com certa coerência entre suas variáveis significativas. E que estes períodos são antecedidos e precedidos por crises. Entretanto, este período globalizado, analisado como período apresenta variáveis que instalam-se em toda parte e a tudo influenciam, direta ou indiretamente. E visto como crise, as mesmas variáveis construtoras do sistema estão continuamente se chocando, exigindo novos arranjos. Para o autor o processo de crise é permanente, através de crises sucessivas que evidenciam uma crise global estrutural. “Por isso, quando se buscam soluções não estruturais, o resultado é a geração de mais crise”.      
No artigo visões estreitas na educação ambiental, Brugger evidencia que as principais causas para a atual crise na relação da sociedade com a natureza podem ser a oposição sujeito-objeto / homem-natureza, além da crença no método científico analítico como única forma válida de conhecimento e a idéia que a vida é uma competição e que dinheiro e tecnologia garantem progresso material ilimitado.  

Segundo Capra (1996), esse paradigma consiste em idéias e valores entrincheirados, como as visões do universo como um sistema mecânico, o corpo humano como máquina, a vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso imaterial ilimitado por intermédio de crescimento econômico e tecnológico e a crença em que uma sociedade na qual a mulher é, por toda a parte, classificada em posição inferior a do homem é uma sociedade que segue uma lei básica da natureza “.
     
Boff (2004) remete a crise ecológica à crise do paradigma civilizacional. Segundo o autor, uma visão reducionista de estar sobre as coisas e sobre tudo parece residir o mecanismo fundamental da crise civilizacional. A vontade de tudo dominar hoje nos faz assujeitados aos imperativos de uma Terra degradada. 

Capra (1996) diz que “em última análise, esses problemas precisam ser vistos exatamente como diferentes facetas de uma única crise que é, em grande medida, uma crise de percepção.” 

Neste contexto, a construção de um novo paradigma mostra-se como iminente e necessária. Este novo paradigma pode ser designado de diferentes formas, mas de forma geral traduz-se nas idéias de complexidade  de Anthony Wilden e Edgar Morin. 

Neste novo paradigma, os elementos sociais, ambientais e econômicos, bem como a necessidade de democratização do conhecimento  devem interagir de forma holística para satisfazer o conceito de estado sustentável, capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as futuras gerações.


A visão de mundo emergente e necessária é a imagem do mundo como possibilidade construída através de novos hábitos, valores e relações e, principalmente através de ações coletivas que considerem os diferentes fatores, processos e conseqüências inerentes a qualquer ação humana.


Segundo Capra (1996) na percepção da ecologia profunda, o novo paradigma é holístico e ecológico, reconhece a interdependência entre todos os fenômenos e que indivíduos e sociedades estão encaixados em processos cíclicos naturais. Em última análise, é uma percepção espiritual, na concepção onde o espírito humano é entendido como modo de consciência no qual o individuo sente-se pertinente, conectado com o cosmos, evidenciando que a percepção ecológica é espiritual em sua essência mais profunda.


Todavia, é importante considerar uma advertência que Morin faz a propósito da relação da teoria da complexidade como paradigma emergente em relação ao paradigma hegemônico, ressaltando que uma conversão teórica, qualquer que seja ela, pressupõe une démarche nascida dentro da própria lógica do paradigma hegemônico. Uma conversão teórica exige uma aproximação reflexiva em relação aos saberes (técnicos, científicos e filosóficos) que determinam o modo de pensar e de agir da sociedade moderna. 

Em outras palavras, para acelerarmos a transformação em curso, necessitamos pensar, propor e implementar alternativas que resultem gradativamente na inserção e disseminação de novas ideias, valores, diretrizes, regras, princípios, enfim, novas formas de pensar e agir,a partir das estruturas e organizações já existentes.

A partir do cenário exposto, pode-se dizer que a concepção do Programa de Gestão Ambiental na Escola foi motivada a partir de uma visão de mundo, na qual a existência concreta de uma crise socioambiental contemporânea explicita a necessidade do ser humano repensar relações, valores, hábitos e o próprio pensar. Neste repensar, a escola representa um dos alicerces na construção de uma sociedade baseada em conhecimento. Todavia, em muitos momentos, a escola ao invés de transformar padrões, os reproduz, mantendo procedimentos, hábitos e técnicas que não favorecem a instalação de um novo paradigma socialmente justo, ecologicamente equilibrado e economicamente sustentável.

Desta forma, enfatiza-se a necessidade de pensar, propor e testar novas metodologias que contribuam para a transformação da escola, com vistas a criação de um ambiente de participação coletiva, que incentive a autonomia individual e a cidadania na construção de uma nova sociedade mais sustentável.