Para Kuhn, a evolução da ciência pode ser entendida como uma sucessão de períodos de "ciência normal" interrompidos esporadicamente por "revoluções científicas" que levam, lenta e gradativamente a "mudanças de paradigmas" que, para o autor pode ser entendido como aquilo que os membros de uma comunidade cientifica partilham e, inversamente, a comunidade consistiria em homens que partilham um paradigma (Thomas Kuhn, 1970, p.219).
Kuhn afirma que assumir um paradigma é essencial para as escolas científicas, estabelecendo regras e assegurando a definição de problema e suas soluções. A ciência normal só existe a partir dos paradigmas, que estabelecem o arcabouço teórico-filosófico que estrutura o trabalho dos cientistas e pesquisadores. Todavia, a partir do momento que estas soluções começam a ser questionadas, quando o paradigma dominante não mais oferece soluções aceitáveis aos problemas estudados, instala-se um momento de crise, debates e questionamentos sobre inseguranças e novas certezas.
revoluções científicas estabelecem novos padrões sociais, filosóficos, econômicos, padrões de relação com a natureza e entre os seres humanos, a forma como pensamos e enxergamos o mundo. Exemplos dessa afirmação podem ser identificados em diferentes momentos históricos, a exemplo das transformações geradas pela descoberta de Nicolau Copérnico, que publica na obra "Sobre as Revoluções dos Orbes Celestes" que a Terra gira em torno do Sol; ou as teorias publicadas por Isaac Newton na obra "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural” na qual Newton descreve a lei da gravidade; as teoria da relatividade de Einstein, ou as conclusões publicadas na obra "Sobre a Origem das Espécies" de Charles Darwin, na qual o autor descreve como a seleção natural e as mutações ao acaso determinam a evolução das espécies.
Todas estas revoluções enfrentaram sérios obstáculos para sua aceitação e resultaram em profundas transformações científicas, filosóficas e sociais. Todavia, embora existam vários exemplos destas revoluções, historicamente elas ocorrem excepcionalmente.
No artigo visões estreitas na educação ambiental, Brugger evidencia que as principais causas para a atual crise na relação da sociedade com a natureza podem ser a oposição sujeito-objeto / homem-natureza, além da crença no método científico analítico como única forma válida de conhecimento e a idéia que a vida é uma competição e que dinheiro e tecnologia garantem progresso material ilimitado.
Boff (2004) remete a crise ecológica à crise do paradigma civilizacional. Segundo o autor, uma visão reducionista de estar sobre as coisas e sobre tudo parece residir o mecanismo fundamental da crise civilizacional. A vontade de tudo dominar hoje nos faz assujeitados aos imperativos de uma Terra degradada.
Capra (1996) diz que “em última análise, esses problemas precisam ser vistos exatamente como diferentes facetas de uma única crise que é, em grande medida, uma crise de percepção.”
Neste contexto, a construção de um novo paradigma mostra-se como iminente e necessária. Este novo paradigma pode ser designado de diferentes formas, mas de forma geral traduz-se nas idéias de complexidade de Anthony Wilden e Edgar Morin.
Neste novo paradigma, os elementos sociais, ambientais e econômicos, bem como a necessidade de democratização do conhecimento devem interagir de forma holística para satisfazer o conceito de estado sustentável, capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer as futuras gerações.
A visão de mundo emergente e necessária é a imagem do mundo como possibilidade construída através de novos hábitos, valores e relações e, principalmente através de ações coletivas que considerem os diferentes fatores, processos e conseqüências inerentes a qualquer ação humana.
Segundo Capra (1996) na percepção da ecologia profunda, o novo paradigma é holístico e ecológico, reconhece a interdependência entre todos os fenômenos e que indivíduos e sociedades estão encaixados em processos cíclicos naturais. Em última análise, é uma percepção espiritual, na concepção onde o espírito humano é entendido como modo de consciência no qual o individuo sente-se pertinente, conectado com o cosmos, evidenciando que a percepção ecológica é espiritual em sua essência mais profunda.
Todavia, é importante considerar uma advertência que Morin faz a propósito da relação da teoria da complexidade como paradigma emergente em relação ao paradigma hegemônico, ressaltando que uma conversão teórica, qualquer que seja ela, pressupõe une démarche nascida dentro da própria lógica do paradigma hegemônico. Uma conversão teórica exige uma aproximação reflexiva em relação aos saberes (técnicos, científicos e filosóficos) que determinam o modo de pensar e de agir da sociedade moderna.
Em outras palavras, para acelerarmos a transformação em curso, necessitamos pensar, propor e implementar alternativas que resultem gradativamente na inserção e disseminação de novas ideias, valores, diretrizes, regras, princípios, enfim, novas formas de pensar e agir,a partir das estruturas e organizações já existentes.
A partir do cenário exposto, pode-se dizer que a concepção do Programa de Gestão Ambiental na Escola foi motivada a partir de uma visão de mundo, na qual a existência concreta de uma crise socioambiental contemporânea explicita a necessidade do ser humano repensar relações, valores, hábitos e o próprio pensar. Neste repensar, a escola representa um dos alicerces na construção de uma sociedade baseada em conhecimento. Todavia, em muitos momentos, a escola ao invés de transformar padrões, os reproduz, mantendo procedimentos, hábitos e técnicas que não favorecem a instalação de um novo paradigma socialmente justo, ecologicamente equilibrado e economicamente sustentável.
Desta forma, enfatiza-se a necessidade de pensar, propor e testar novas metodologias que contribuam para a transformação da escola, com vistas a criação de um ambiente de participação coletiva, que incentive a autonomia individual e a cidadania na construção de uma nova sociedade mais sustentável.
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